Em direção às origens


Então....eu queria falar sobre esse livro chamado The Call of the Wild, que em português tem dezenas de traduções - O Chamado da Selva, ou Selvagem, ou da Floresta, entre outras variações. Essa edição que eu tenho é da Puffin Books, que é parte da editora Penguin e publica livros infantis, geralmente nessas capas fofinhas. O que é curioso, porque é um livro com umas cenas de violência fortes, que pesam ainda mais por serem sofridas por animais - e, às vezes, nem eram causadas por humanos. Mais intrigante ainda é saber que, se eu tivesse lido quando criança, provavelmente não seria tão afetada com essas cenas como fui lendo já adulta.


Basicamente, it made me feel all the things
Bom, mas antes, deixe-me falar um pouco sobre o que se trata essa obra: é, basicamente, sobre o retorno ao estado selvagem. Algo que seria normalmente visto como um fato triste e até deplorável é tratado aqui como a coisa mais bela do mundo, ainda que seja cheia de provações cruéis.


Mais especificamente, é a história de Buck, um cachorro que tinha um padrão de vida considerado perfeito. Casa grande, quintal maior ainda, donos que gostavam dele, comida nunca faltava - era um animal feliz. Isso até ser sequestrado por um FILHO DA PUTA empregado da família, que o vendeu para uns contrabandistas de cães.


Era a época de corrida pelo ouro no Alasca (final do século XIX, se não me engano), e cachorros grandes e fortes eram valiosos, pois alguém precisava puxar os trenós cheios - ou não - de tesouros. Buck foi usado, junto de vários outros cachorros, como uma peça de motor por vários homens que foram trabalhar naquela terra gelada. Alguns tratavam seus animais muito bem, garantindo um bom trabalho; outros não tinham tato e os forçavam a trabalhar até o limite, sem comida e descanso, e se achavam no direito de reclamar quando os bichos não saíam do lugar.


Como eu comentei lá em cima, tem umas passagens pesadas, que me deixaram tensa a ponto de quase conseguir me sentir deitada no gelo, recebendo tanta porrada que a dor simplesmente deixou de incomodar tanto. Isso pode ser um estado extremamente trágico de se estar, mas totalmente necessário para que Buck pudesse evoluir como animal e voltar ao lugar onde seus ancestrais habitavam, a wilderness. Um lugar sem interferência dos humanos modernos, onde somente a natureza dita as regras.

Sério, eu não estou conseguindo escrever sobre essa obra do jeito que eu queria. Jack London escreve de um jeito muito simples, sem nenhum floreio de linguagem - próprio para crianças, acho.  Mas o tema é meio complexo, tanto que eu não sei se consigo compreender direito como funciona a wilderness. Ninguém entende, na verdade - nem Buck sabia o porquê de tudo isso. Apenas ia, porque sentia que era isso o que ele mesmo desejava.

É uma história triste e feliz ao mesmo tempo, que apresenta a natureza do jeito que ela sempre foi: cheia de beleza, e permeada por sangue e medo, onde só os realmente fortes, como Buck, conseguem sobreviver por algum tempo. Dá para ter vontade de participar dessa vida liberta de tudo menos de você mesmo, mas talvez seja melhor não. Sei lá!! Ficar por aqui certamente dá menos trabalho e mais conforto, só que acho que seria melhor para nós, de vez em quando, responder ao chamado também...

Comentários

  1. Quando comecei a ler e pesquisar um pouco mais sobre os trabalhos de Jack London, O Chamado Selvagem logo "me chamou". Li "Caninos Brancos", do mesmo autor, recentemente, e ainda estou num estado de torpor. A narrativa dele é muito simples, o que tornou toda a história ainda mais triste e revoltante, pelo menos pra mim.

    Me parte o coração porque eu tenho uma visão de que os animais que o Jack London descreve (e que ele maltrata tanto nas suas narrativas) são as imagens de todos os animais que estão soltos pelo mundo à fora e sofrendo nas mãos de gente cretina.

    "Basicamente, it made me feel all the things" é isso. Um turbilhão de sensações, de tristeza a muita muita raiva.

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    1. Ainda não li Caninos Brancos, mas pelo o que eu sei o Jack deve ter escrito justamente para chamar a atenção ao tratamento absurdo que muita, mas muita gente MESMO, dá aos animais. O pior é que todas essas chicotadas e pancadas eram totalmente desnecessárias, alguns humanos batem por prazer de se sentirem poderosos mesmo. Além de tristeza e raiva, dá para sentir nojo também...

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