O problema das casas de Hogwarts

É provável que algumas pessoas me odeiem por isso. Ou simplesmente me achem chata demais. As casas de Hogwarts formam um elemento muito amado pelos fãs de Harry Potter, eu mesma adoro imaginar em que casa personagem tal de alguma outra obra ficaria, e sou da Lufa-Lufa com orgulho. Porém, na maratona de releitura que estou fazendo, percebo que alguns detalhes do mundo de J.K. Rowling não são tão mágicos como eu achava antes. E a questão dessas casas é o que mais me vem incomodando, de certa forma.

Primeiramente, desde o primeiro livro nós somos introduzidos às casas de maneira estereotípica demais, especialmente em relação às com mais destaque – Grifinória e Sonserina. Na cabeça do público geral, a primeira é a casa dos fodões e a outra, dos malvadões. Isso é, de certa maneira, muito exaltado nos dois primeiros livros – especialmente depois da questão da Câmara Secreta. Porém, quem lê os livros com atenção percebe que não é assim que funciona – existem bruxos das trevas de outras casas, grifinórios se comportando de maneira lamentável e sonserinos com um bom coração.

Mas, no próprio universo dos livros, julgar é encorajado. Especialmente depois da guerra de Voldemort, pais envenenam a cabeça dos filhos com histórias horríveis sobre a Sonserina, e eles vão para Hogwarts sabendo que todos os que vão para lá são bruxos das trevas. E também há a questão de todos os alunos da Lufa-Lufa serem idiotas, de alguns considerarem não valer à pena estudar nessa escola se for para fazer parte dessa casa. É fato que, de um ponto de vista sociológico, esse comportamento dos bruxos em relação às casas daria um estudo muito interessante sobre a questão de identidade e preconceito - e, apesar de sermos restritos à visão do Harry, a Rowling lida muito bem e fielmente aos personagens com esse assunto.

Ainda assim,  é uma maneira de descriminação muito chata e desnecessária. Ok, é tradição e tal, mas eu não consigo entender como ninguém desse mundo viu como essa divisão prejudica as crianças, praticamente impedindo-as de conhecer pessoas diferentes e outros pontos de vista. Elas passam toda a adolescência implicando com os outros e dando valor apenas aos que tem ideias e pensamentos parecidos. Sério, essa divisão não faz bem.

“Ai, Lizzie, deixa de ser chata, é só ficção” – diga isso a quem fica rindo das casas com que os outros se identificam. Diga isso para aqueles que acham que apenas Grifinória presta, para aqueles que acham ridículo fãs que saem com cachecóis da Lufa-Lufa, que sentiriam verginha de fazer tal coisa na rua mas usam o da sua própria casa até em dias de calor (sim, já me disseram isso). Para os que entram em discussões intermináveis na internet sobre qual casa é melhor. Por que tanta descriminação, tanta briga, tanto julgamento?? É só um livro. Por mais importante que ele seja para você (sei que é para mim), não seria muito mais fácil se divertir?

As casas de Hogwarts dividem não só os alunos, mas os fãs também. Os que não percebem que todas as casas são igualmente boas, cada uma apenas tem algumas qualidades que se destacam mais do que nas outras.


Sinceramente, estou cansada dessas discórdias, dessas discriminações, dessas panelinhas dentro dos grupos de fãs. Não só de Harry Potter… por mais que hoje em dia se pregue a ideia de que todo mundo tem direito à sua própria opinião, o que eu menos vejo é respeito às ideias dos outros.

Comentários

  1. Nao e so ficao. A idea de "casas" existe em muitos colegios e faculdades tradicionais na Europa e algumas faculdades tradicionais nos EUA (tipo Harvard e Yale). Harry Potter e um grande critica social da Inglaterra - desde a tensao entre a realeza e os comuns mais talentosas, ate a irlandes catolico, pobre e cheia de filhos (representado pelos Weasley) - ate a politica (e principalmente o sistema de ensino com os OWLs e NEWTS representando as provas do IGCSE e IB ou A-levels que decidem carreiras. A autora nao esta promovendo o sistema de "houses", mas esta o criticando. Nao e um livro infantil. Foi escrito do ponto de visto de uma crianca ingenua imersa num estado semi-adulta que da para ele criticar sem levar seus proprios preconceitos para o mundo de "magica". Se voce so liu o livro em portugues (a traducao e pessimo, por exemplo a traducao de "mudblood" ou "sangue-suja" para "troxo") e sem considerar o contexto historico--social da versao original em ingles, voce perdeu muita coisa. Tem cursos inteiros em faculdades no mundo inteiro que dao aulas de "Harry Potter como Critica Social". Se voce entende ingles, vale a pena procura videos e o sylabus de um desses cursos online.

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    1. eu estou lendo o livro em inglês, e entendo muito bem o ponto de vista como crítica social - até comentei no meio do texto. até quando eu era criança eu pegava alguns desses ataques, fazendo paralelo com as escolas no Brasil, e achava o máximo.

      o problema é que, sendo um livro voltado para o público infanto juvenil, e infelizmente desmerecido por muitos por causa disso, a maioria das pessoas lê apenas por diversão e deixam esses detalhes passarem. a minha maior crítica nem é às casas em si, mas a como as pessoas se comportam em relação à elas (fãs rejeitando personagens e fãs por causa de casas).

      mas não sabia desses cursos online, parecem ótimos!!! vou procurar, obrigada mesmo pela indicação!

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  2. Gente, jura que essa é uma discussão válida? Quer dizer, jura que as pessoas se comportam assim? Meio que discriminar uma pessoa por causa da casa de Harry Potter que ela se identifica? Hahahahahahah Francamente... Deve ter muita gente louca assim em fandom, né? :-/

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    1. POIS É. essa é basicamente a principal discussão no fandom de HP, a primeira coisa a se levar em conta por muitos fãs. já disseram na minha cara que a Lufa-Lufa é uma casa para os fãs retardados logo depois de eu falar qual era a minha casa, como se isso fosse UMA GRANDE OFENSA, algo a ser levado a sério!!! eu me surpreendo. e o pior é que muitos desses que eu vejo nem são crianças, são da minha idade, cresceram com HP e tal...

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